terça-feira, 13 de abril de 2010

O cara e uma garota no celular

O cara está deitado em sua cama enrolado no edredom sem conseguir dormir. Ele pensa sobre nada mais que sua vida, o que poderia ter feito de errado (e que fez) para não cometer de novo. Mas pro cara não importa como melhorar sua atitude, toda vez vai chegar na mesma conclusão. Ele sempre vai cometer errros. Erros? Depende do ponto de vista, pensa ele.

Ele olha pro celular, três horas da manhã. Falta pouco para os pássaros chatos começarem a cantar na sua janela. O cara larga o celular na mesinha ao lado da cama e tenta dormir. O celular toca. Número estranho, o cara atende:

- Alô?

É uma garota no outro lado da linha:

- Oi.
- Oi, quem é?
- Sou eu. A garota do ponto de ônibus. Lembra?
- Ah! Oi! Tudo bem? Eu... eu esqueci que tinha passado o número.
- Ah é? Tinha esquecido de mim então? Que bonito hein mocinho.
- Não, não é isso. Você não entendeu, é que faz tanto tempo que passei o meu número. Pensei que nunca ia me ligar.
- Ah, pois é. Liguei. Te acordei?
- Na verdade não. Estava tentando dormir...
- Hummm então incomodei seu sono. Puxa, não acerto uma.
- Não, não. Não é isso. Desculpa.
- Relaxa. Só to brincando. E ai, o que me conta mocinho?
- Que que eu conto? To tentando dormir. Hum, que mais... Você não dorme aliás?
- Durmo sim.
- Você tá na cama?
- Ha ha ha ha. Pergunta estranha. Sim, to.
- Você liga pra mim ás três da manhã e diz que eu sou o estranho? Pelo menos temos algo em comum.
- O quê? Somos dois estranhos?
- Não. Também estamos na cama.
- Ahm tá.
- Por que resolveu me ligar só agora? Era o único horário disponível?
- Isso. E também porque eu adoro ligar pras pessoas de madrugada e acordá-las.
- É, mas sinto desapontá-la, você não me acordou.
- Droga.
- Eu gosto quando ligam pra mim de madrugada. Ainda mais quando é mulher. Quando homem faz esse tipo de coisa elas praticamente detestam.
- Depende do cara.
- É, tá certa. Depende do cara.
- ...
- Que foi? Ficou quieta.
- Nada ora.
- Ei! Agora tenho seu número. Viu o que fez? Agora vou salvar o seu celular.
- Pode salvar. Acharia até chato se você não salvasse.
- Agora quem vai te incomodar na madrugada vai ser eu. Tá vendo?
- Oh que medo.
- Ei, vai fazer algo essa semana?
- To lotada de coisas pra fazer. Não tá vendo que o único horário disponível pra falar contigo é ás quatro da matina?
- É verdade. Espero então um final de semana? Pode ser?
- Veremos. Vou dormir agora. Pelo menos tentar que nem você.
- Legal ter ligado. Estava esperando, pensei que não faria isso.
- Por que pensou isso?
- Sei lá. Pensei que meu celular serviria de chacota. Trotes e tudo mais.
- Você acha que tenho cara de que faz trotes?
- Depende. Você aborda muitos caras no ponto ônibus pedindo seus números de celular pra fazer trotes com suas amigas maléficas do clube?
- Depende do cara. Se ele tem cara de bobão sem dúvida alguma vale a pena tentar fazer isso.
- Putz! Isso indica que não fui o primeiro.
- E nem será o último.
- Vou te denunciar.
- Pra quem?
- Pros... pro departamento-de-caras-que-são-engananos-por-minas-em-ponto-de-onibus.
- Nossa. Devem ser sérios.
- E são. Sem pena para as criminosas.
- Foi uma boa ligação hein? Me chamou de estranha, estraga prazeres de sono, criminosa... que mais?
- Pra primeira ligação já está bão.
- Ha ha. Tá então. Vou dormir. Té mais moço.
- Té mais moça. Ligue mais.
- Tá. Se cuida.
- Opa. Me cuidarei. Beijo.
- Beijo, tchau.

O cara desliga o celular e salva o número. Ele não sabe o nome dela então guarda na agenda como "Mina do ponto". Ele coloca o celular ao lado da cama e tenta dormir, pelo menos desta vez com um sorriso no rosto.

5 comentários:

Nat disse...

Mina do ponto...

ISA disse...

Tbm adorei o 'Mina do Ponto'... e adoro sua sensibilidade. Adoro!

Mariana Amaral disse...

Adorei seu texto, imaginei a rua, o ponto e ela ligando na madrugada. Foi lindo.

Mariana Amaral disse...

Enquanto você não me expulsar do seu sofá branco, farei daqui a minha morada. RS...
Fique tranquilo, eu tiro o tênis.
Beijo.

ps: pode me adicionar no orkut se quiser.

Carolina disse...

Baseado em fatos reais.