quinta-feira, 24 de junho de 2010

O cara e uma garota no bar

O cara está esperando pela garota em frente a catraca de metrô. É uma tarde de domingo e a estação se encontra em pouco agito.
Alguns minutos a mais se passam e a garota finalmente chega. Eles se cumprimentam e começam a andar pra fora da estação.

- Esperou muito?
- Não, não. Tranquilo. Me diverti olhando para as pessoas que passavam e criando apelidos pra elas.
- Ah, mas hoje não tem tanta gente esquisita como tem no sábado.
- Verdade. Sexta e sábado isso aqui vira um circo. Hoje é domingo, elas devem estar dormindo agora. Então, temos muitas opções, podemos ir pra lá ou pro outro lado. Pra cá tem mais bares.
- Então vamos pra onde tem mais bar.
- Não imaginava que seguia esse pensamento. Desde aquela primeira conversa no ponto pensei que meninas do vôlei abominassem o álcool.
- Eu não abomino o álcool. Só não bebo muito.
- Você ta tentando me agradar indo pra onde tem mais bares? Você não precisa fazer isso.
- Não to fazendo isso. E você nem parece o tipo de cara que precisa ser agradado o tempo todo...
- Mas eu gosto de ser agradado!
- Hoje vou beber só um pouquinho. Não gosto muito de cerveja, mas domingo tem cara de que deixa elas mais gostosas.
- Os butecos ficariam felizes se todos seguissem essa linha de raciocínio. Pena que temos cristãos que acham que domingo pede por igreja. Aliás, você é religiosa ou...?
- Não, não. Quer dizer, eu acredito em Deus, minha família é religiosa e tal, mas não vou pra igreja aos domingos.
- Ainda bem. Suei frio aqui. Vamo ficar aqui? É mais sossegado.
- Pode ser.

O cara e a garota sentam numa mesa no lado de fora do boteco. Ele pede por uma cerveja e dois copos.

- Tem treino amanha?
- Tenho. Todo dia.
- É treino ou você dá aula?
- Treino. Participo de alguns eventos esportívos também. Nada muito grande, um dos meus sonhos é participar das olimpíadas. Mas precisa ter os contatos, passar por todo um setor burocrático, conhecer gente importante dentro dos times de vôlei, clubes.
- Normal. Como em todo lugar você precisa ter contato. E não é qualquer contato, tem que ser com os fodidos mesmo.
- É. O meu namorado...

Neste instante o brilho nos olhos do cara se extingue. Até o tom rosado de sua pele se torna um cinza melancólico. A notícia caiu como uma bomba. Ela continua:

- ...tem alguns contatinhos dentro do clube Banespa e tem me ajudado um pouco. Ele tem um amigo ou um parente que é amigo do Zé Roberto, sabe? Técnico da seleção feminina? Ele apareceu algumas vezes no clube, infelizmente eu não tava em nenhum dia que ele foi. Pura falta de sorte.
- Mas se o seu namorado conhece um cara que conhece o técnico, então a questão não é trazer ele até você, e sim o contrário. Você é que tem que ir até o cara.
- Sim, sim, mas o cara vive viajando com a seleção. O dia em que ele ou a seleção feminina travar alguns torneios e treinos por aqui tentarei me aproximar dele e das meninas. Elas são fantásticas.
- Legal. Seu namorado sabe que você ta aqui?
- Sabe. Quer dizer, não com outro cara. Ele sabe que saí de casa, to pela redondeza, mas não com você. Falei que ia sair com uma amiga.
- Que malandragem. Essas pessoas que namoram tão sempre escondendo coisas um dos outros né?
- Se eu falasse que sairia contigo hoje ele viria correndo pra minha casa me impedir disso! Ele é muito ciumento.
- É o preço que se paga em namorar uma garota que faz vôlei. Elas são altas e fortes, cobiçadas por qualquer homem, casado ou solteiro. Namorar com uma dessas deve ser difícil. Vocês não devem saber como se defender de outro galã.
- Do que você ta falando?
- Eu não sei, não me escute. Sou idiota. Como vocês se conheceram?
- Ele faz futebol de salão lá no clube.
- Ah ta. Pensei que tinham se encontrado no chuveiro do clube ou algo assim. Não é unissex, é?
- Não, não.
- Que pena. Estava pensando em fazer algo lá que me deixasse suar bastante. Como bocha. Eba! Acertei a bolinha. Hora do banho com as meninas do vôlei! Mas então, como foi esse encontro?
- Teve um dia que o jogo acabou tarde e a galera dos esportes decidiram ir pras arquibancadas. Foi algo meio surreal, não sei quem bolou isso, os meninos do futebol de salão e as meninas do vôlei. Uma festinha entre nós, uma quase festinha. Não teve bebida, violão, nem nada. Apenas um encontro para os rapazes e as garotas se conhecerem. Foi engraçado.
- Deve ter sido. Vamos mais uma? Saideira?
- Pode ser.

Eles bebem mais duas garrafas. O cara paga duas e ela uma. No final eles sobem conversando até a estação que se encontraram no começo da tarde. O cara deixa ela na catraca e ele retorna pra rua pegar seu ônibus de volta pra casa.