domingo, 5 de dezembro de 2010

O bicho-preguiça e o ambientalista

- Hum? Quem... Quem é você?
- Olá bichinho, prazer, sou Paulo. Vim tirar umas fotos suas, se importa?
- Claro que me importo! Eu estava dormindo.
- Não era intenção minha te acordar. Só quero tirar umas fotos suas pendurado pra publicar no meu blog.
- Ok, aqui vai três coisas que você precisa saber, humano: Primeiro, esta é a minha casa. Segundo, meu nome é Jeferson, não bichinho. Terceiro, você gostaria que eu fosse até sua casa tirar umas fotos de você na cama? Pensando bem, esqueça que mencionei essa última parte.
- Eu sei exatamente como se sente. Nós, os homens, invadimos seu habitat roubar o que é seu, destruir o que é seu, não é justo.
- Não, não é. Quando pisam na nossa comida é ainda pior.
- Exatamente.
- Não, sério, você ta esmagando as minhas frutas.
- Oh. Desculpa.
- Por quê você continua aqui?
- Tem outra coisa que gostaria de perguntar.
- Não!
- Você nem ouviu o que tenho pra falar.
- A resposta é não.
- É a minha mulher. Ela gostaria de te conhecer. Topa um jantarzinho lá em casa?
- Ahm, depende.
- Faço qualquer coisa pra te agradar.
- O que vai ter pra janta?
- Eu realmente não faço idéia. Tenho que ligar pra minha mulher perguntando.
- Eu espero.
- Um minuto. Alô, querida? É o Paulo. Então, to aqui com ele. É, no galho. Pendurados nos galhos! Ha ha ha ha. Então, ele quer saber o que tem pra janta. - Sopa. -
- Sopa? Sua esposa prepara sopa pras pessoas que vão comer na sua casa? Esqueça, prefiro ficar com minhas frutas.
- Ahm... amor? Guarda a sopa na geladeira. Calma, não é bem isso. Ele quer... Ele prefere outra coisa. Ta. Vou perguntar. - O que você quer comer? -
- Eu? Eu não sei. Eu como frutas e plantas o dia todo. Isso é uma floresta, não tenho muitas opções no cardápio, você vê? Que tal me surpreender?
- Querida? Ele come plantas o dia todo, prepare outra coisa que não envolva planta. Ta. Beijo.
- E ai?
- Falou que vai preparar algo cremoso.
- Cremoso? Ela vai fazer creme?
- Eu não sei. Mas garanto que será formidável. Tem um creme que ela faz, francês...
- Creme é sopa.
- Creme não é sopa.
- Claro que creme é sopa. Creme é uma sopa mais cremosa.
- Isso não faz sentido.
- Por quê não fazem algo suculento? Vocês são vegetarianos?
- Somos e com muito orgulho. Fazemos o possível pra preservar a vida...
- Jesus Cristo, eu sabia! Eu como mato o tempo todo nessa maldita selva! Eu não posso sair daqui porque provavelmente fariam casaco da minha cútis! Você vem aqui, sobe na minha casa, pisa no meu jantar, convida pra comer coisas que eu já como e ainda quer tirar fotos minhas?
- Se você quiser posso ligar pra minha mulher de novo e cancelar o jantar.
- Não, olha, desculpa. Eu vou com você. Eu não recebo muitas visitas, se recebo são de tratores e lenhadores cantores. Não queria ofender você e nem sua mulher. É muita pressão, você precisa entender.
- Você não ofendeu, não se preocupe. Vou ligar pra ela fazer outra coisa menos aguada.
- Menos aguada seria de muita gentileza.
- Amor? Sou eu outra vez. Então, esqueça o jantar em casa, tive uma idéia. Vamos pra um restaurante! Eu sei querida, eu sei do esforço que você fez pra... Ta. Ta. Eu falo. Ta. Tchau.
- Que foi?
- Ela mandou você tomar no cu.
- Oh. Ok.
- É.
- Então...
- Bom, boa sorte, Jeferson. Desculpa ter pisado nas suas frutas e tal, mas...
- Sem problema.
- A gente se vê.
- Sim, sim. Tchau.

...

- Puta.