O cara está esperando pelo seu ônibus num ponto que fica no meio de duas grandes avenidas. Uma garota de longo cabelo preto usando um par de tênis branco Reebok cruza a avenida em direção a parada. Os dois se olham e sorriem. A garota senta no lado direito do cara, os ônibus chegam pelo esquerdo.
Segundos se passam, o cara olha pra garota no seu lado, ela está olhando em direção a ele na espera de seu ônibus. Seus olhares se cruzam. A coragem sobe até a garganta do cara que faz sua boca vomitar a palavra mais brilhante que veio em mente:
- Oi.
A garota sorri sem mostrar os dentes. Ela não fala nada. O cara volta a olhar pra direção contrária verificando se algum ônibus chega. Ele sente aquele calor no peito, o nervo na região da pálpebra esquerda pulsa constantemente até que num ato involuntário ele vira novamente pra garota.
A garota sorri sem mostrar os dentes. Ela não fala nada. O cara volta a olhar pra direção contrária verificando se algum ônibus chega. Ele sente aquele calor no peito, o nervo na região da pálpebra esquerda pulsa constantemente até que num ato involuntário ele vira novamente pra garota.
- Desculpa.
- Hum?
- Desculpa. Eu não costumo fazer isso.
- Fazer...?
- Falar com pessoas, dizer oi, essas coisas. Do nada!
- Ah ta. Tudo bem.
- Desculpa de novo. Vou parar aqui.
- Ah, tudo bem.
- É como num filme. Cara estranho, ponto de ônibus... nada a ver.
- Verdade. Bem estranho.
- É. Vou me calar agora.
- Ta tudo bem. Você pega qual ônibus?
- Santa Cruz. Vou pro shopping, de lá pego o metrô.
- E vai pra onde?
- Vou pro trabalho. Eu trabalho numa agência de publicidade lá na Parada Inglesa.
- Ah, legal.
- E você?
- To indo pra casa. Eu pego o São Judas.
- Vai pegar metrô também?
- Não, não. O ônibus passa perto de casa. Você é o que lá na agência?
- Sou webdesigner.
- Hum.
- Coisa de nerd né? Eu sei. Faço Design aqui na Anhembi Morumbi.
- Ah, legal.
- Você trabalha? Estuda?
- Então, eu me formei em Educação Física, acabei de sair do clube Banespa. Faço vôlei.
- Bacana. Vôlei entra como o número dois ou três dos esportes que não sei jogar.
- Você é alto, imaginava que sabia praticar alguma coisa, como basquete...
- Sabia! Ta vendo? Todo mundo fala isso. Eu só quero parecer alto para as pessoas sem acrescentar outras coisas depois disso. Não quero que as pessoas passem por mim e digam "Veja que cara alto. Ele deve ser bom em fazer cestas". Infelizmente elas ficam bem decepcionadas quando falo que sou apenas um cara alto. E mais nada!
- Mas você pratica alguma coisa? Faz algum esporte?
- Já passei dessa fase saudável. Fiz Kung-Fu durante uns quatro anos mas resolvi parar. Cansei, sei lá.
- Hum.
- Acho legal mulher que faz algum esporte. Sempre apoiei meninas que sabem chutar coisas ou que são boas de mira com alguma bola. Eu sei, argumento estranho, calma, mas não consigo colocar em outra forma. A minha namorada... se eu tivesse uma é claro, acho que ela deveria praticar alguma coisa. Ser a saudável da relação, dizer quando o cara deve parar de fazer cagada com o corpo. Meio que criar um balanço, sabe?
- Sei. Eu não me importaria se o cara não fizesse algo. Não levo isso como relevância.
- Isso eu acho legal, desde que não exagere não é? Eu não me considero saudável, como besteira e sou magrelo estranho desse jeito. Mas também não queria ter uma dessas namoradas saudáveis chatas que me acordaria umas cinco da manhã pra correr no parque com ela. Cinco horas da manhã é o horário que to indo pra cama depois de ficar no computador trabalhando ou jogando alguma coisa. Ou quando chego de balada.
- Sei, sei, ta certo. Ah, meu ônibus...
- Opa. Tchau, tchau então. A gente se vê.
- Você pega ônibus sempre aqui?
- Sim, saio da faculdade mais ou menos no horário do almoço e venho pra cá. Por quê?
- Hum. Tem celular?
- Tenho...
- Qual o seu nome?
- Tenho...
- Hum?
- Desculpa. Eu não costumo fazer isso.
- Fazer...?
- Falar com pessoas, dizer oi, essas coisas. Do nada!
- Ah ta. Tudo bem.
- Desculpa de novo. Vou parar aqui.
- Ah, tudo bem.
- É como num filme. Cara estranho, ponto de ônibus... nada a ver.
- Verdade. Bem estranho.
- É. Vou me calar agora.
- Ta tudo bem. Você pega qual ônibus?
- Santa Cruz. Vou pro shopping, de lá pego o metrô.
- E vai pra onde?
- Vou pro trabalho. Eu trabalho numa agência de publicidade lá na Parada Inglesa.
- Ah, legal.
- E você?
- To indo pra casa. Eu pego o São Judas.
- Vai pegar metrô também?
- Não, não. O ônibus passa perto de casa. Você é o que lá na agência?
- Sou webdesigner.
- Hum.
- Coisa de nerd né? Eu sei. Faço Design aqui na Anhembi Morumbi.
- Ah, legal.
- Você trabalha? Estuda?
- Então, eu me formei em Educação Física, acabei de sair do clube Banespa. Faço vôlei.
- Bacana. Vôlei entra como o número dois ou três dos esportes que não sei jogar.
- Você é alto, imaginava que sabia praticar alguma coisa, como basquete...
- Sabia! Ta vendo? Todo mundo fala isso. Eu só quero parecer alto para as pessoas sem acrescentar outras coisas depois disso. Não quero que as pessoas passem por mim e digam "Veja que cara alto. Ele deve ser bom em fazer cestas". Infelizmente elas ficam bem decepcionadas quando falo que sou apenas um cara alto. E mais nada!
- Mas você pratica alguma coisa? Faz algum esporte?
- Já passei dessa fase saudável. Fiz Kung-Fu durante uns quatro anos mas resolvi parar. Cansei, sei lá.
- Hum.
- Acho legal mulher que faz algum esporte. Sempre apoiei meninas que sabem chutar coisas ou que são boas de mira com alguma bola. Eu sei, argumento estranho, calma, mas não consigo colocar em outra forma. A minha namorada... se eu tivesse uma é claro, acho que ela deveria praticar alguma coisa. Ser a saudável da relação, dizer quando o cara deve parar de fazer cagada com o corpo. Meio que criar um balanço, sabe?
- Sei. Eu não me importaria se o cara não fizesse algo. Não levo isso como relevância.
- Isso eu acho legal, desde que não exagere não é? Eu não me considero saudável, como besteira e sou magrelo estranho desse jeito. Mas também não queria ter uma dessas namoradas saudáveis chatas que me acordaria umas cinco da manhã pra correr no parque com ela. Cinco horas da manhã é o horário que to indo pra cama depois de ficar no computador trabalhando ou jogando alguma coisa. Ou quando chego de balada.
- Sei, sei, ta certo. Ah, meu ônibus...
- Opa. Tchau, tchau então. A gente se vê.
- Você pega ônibus sempre aqui?
- Sim, saio da faculdade mais ou menos no horário do almoço e venho pra cá. Por quê?
- Hum. Tem celular?
- Tenho...
- Qual o seu nome?
- Tenho...
A garota ri. Ela tira o celular do bolso e o cara fala o número do seu celular. Ela sobe no ônibus sem ele saber o nome dela. O cara ficará na espera frustrada da garota ligar, e quando ligar saberá exatamente quem é.